quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PARQUE DA PENA Chalet da Condessa em fase final de reconstrução

Ver edição completa Intervenção da Parques de Sintra-Monte da Lua promete devolver esplendor original a imóvel que ardeu em 1999 Quinze anos após a colocação de uma estrutura de protecção, que não evitou o incêndio de 1999, o Chalet da Condessa vai voltar a sobressair na zona ocidental do Parque da Pena. Até ao final do mês, a empresa Parques de Sintra-Monte da Lua vai concluir os trabalhos de reconstrução do imóvel, ao nível de paredes, pavimentos e cobertura, e de execução de infra-estruturas básicas (água, esgotos e electricidade). O exterior do edifício, construído em 1870 por D. Fernando II para a sua segunda mulher, Elise Hensler, vai ficar totalmente reabilitado, perdendo, de uma vez por todas, a envolvência de andaimes. Ao redor do imóvel, está ainda em curso a reabilitação dos Jardins da Condessa, que promete proporcionar momentos únicos de contacto com a Natureza já a partir do próximo Verão. "Estamos a concluir uma intervenção de reconstrução: é muito autêntica nos materiais, nas técnicas, nas soluções construtivas. Fizemos uma reprodução fiel de tudo aquilo que cá estava e melhorámos as condições de segurança; o edifício passa a ter detecção de incêndios e um método preventivo de combate a incêndios", salienta o arquitecto José Maria Lobo de Carvalho, responsável pelo restauro do Chalet da Condessa, durante uma visita exclusiva para o JR. "Houve um cuidado muito grande em refazer o edifício, sem alterar a imagem, mas dotá-lo das condições actuais de conforto e de funcionalidade", reforça. No exterior, um batalhão de trabalhadores, alguns deles autênticos artífices, estão a recuperar o esplendor do imóvel, revestido por amplas zonas de cortiça. Uma missão que não constituiu tarefa fácil. "Tivemos de trabalhar a chamada cortiça virgem, a casca da árvore, que é grossa e tosca, e para este tipo de trabalho, muito pormenorizado, tivemos que pedir a uma empresa que agarrasse na casca e a cortasse em fatias fininhas", sublinha aquele responsável. Com estas lâminas de cortiça, após ser cozida em água quente para ficar mais maleável, foi possível concretizar o trabalho rendilhado no exterior do edifício. José Maria Lobo de Carvalho estima que foi necessário "uma tonelada e meia a duas toneladas de cortiça" para concretizar esta reabilitação. Se parte do material foi adquirido no Algarve, uma parceria com a Força Aérea Portuguesa permitiu aproveitar cortiça proveniente do Campo de Tiro de Alcochete. As obras incluíram o sistema de drenagem das águas pluviais, no sentido de não degradar a cortiça, uma situação que, aliás, terá motivado obras no edifício logo 15 anos após a sua construção. "O edifício manteve-se enquanto D. Fernando teve o cuidado da sua manutenção regular e contínua, mas depois houve aquele período da queda da Monarquia, da entrada na posse do Estado, do abandono progressivo que conduziu ao seu incêndio em 1999", acentua o arquitecto. Com a reposição dos elementos decorativos em cortiça, a imagem do Chalet vai recuar um século no tempo. "A partir da queda da Monarquia, não há fotografias com o trabalho decorativo dos beirados", ou seja, "em 40 anos, grande parte do rendilhado, do trabalho de cortiça que caracteriza a imagem exterior, desapareceu". Ao subir os andaimes que envolvem o imóvel, podemos observar melhor os ornamentos em cortiça, mas, acima de tudo, constatar a reabilitação da pintura decorativa das fachadas. Para o efeito, foi necessário vários ciclos de "aplicação de biocida para remover a presença orgânica porque no ambiente da Serra, muito húmido, a colonização biológica, com líquens e fungos, é brutal", alerta. Mas, o que mais chama a atenção é a reposição da cobertura. Com o incêndio de 1999, o edifício ficou sem cobertura, "estava totalmente a céu aberto". Mais uma vez, não foi fácil manter a autenticidade da intervenção. As telhas foram adquiridas a proprietários rurais, já que não foi possível reproduzi-las, "ninguém faz esta telha hoje em dia", salienta o arquitecto. "Fizemos um seguro de saúde que consiste no revestimento de zinco. Temos uma cobertura de zinco, e, sobre essa, estão as telhas como camada de superfície", realça o técnico da PSML. O revestimento de zinco impede assim as infiltrações em caso de se partir uma telha. Nos próximo dias, vai ser colocada a nova varanda que assenta numa estrutura de metal de reforço. "Houve um cuidado muito grande na estrutura geral que depois a arquitectura tapa, para apresentar uma construção sólida". Amenos de um mês da conclusão das obras, a azáfama é grande no exterior. José Maria Lobo de Carvalho recorda "a energia" que esteve sempre presente ao longo da empreitada. "Esta obra chegou a ter um pico de 57 operários no terreno, quase 60 pessoas para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita...". A reconstrução do Chalet da Condessa, tal como acontece com o restauro do património em geral, implicou "um trabalho muito intensivo do ponto de vista da mão-de-obra". "A conservação do património tem um acréscimo, quer de custos, quer de trabalho, muito grande e este ‘chalet’ tem, de facto, uma quantidade de trabalho aqui incorporado que não é compreensível", salienta o arquitecto. Após esta fase, a PSML vai dar sequência às empreitadas de restauro do interior, "que vão continuar com um ritmo próprio", em função do financiamento a obter, que deverá estar próximo da verba já investida na fase de toscos e de infra- estruturas. Desde 2007, os trabalhos de reconstrução implicaram um investimento de cerca de um milhão de euros, com financiamento de 85% de um mecanismo europeu (EEA Grants), e tendo como parceiros o The Norwegian Institute for Cultural Heritage Researche (NIKU), Instituto de Museus e Conservação, Universidade Nova de Lisboa e Instituto Superior Técnico. José Maria Lobo de Carvalho acredita que o restauro do interior poderá ser concretizado entre "um a dois anos", mas tudo depende das verbas angariadas. "É interesse da Parques de Sintra continuar imediatamente com os restauros. Não vamos deixar cair o assunto e vamos continuar", assegura o arquitecto. "Mas, também uma obra destas requer tempo para pensar, para não fazer qualquer coisa de forma precipitada", reforça. Ao longo dessa segunda fase, à semelhança do que aconteceu desde 2007, os trabalhos podem ser alvo de algumas visitas, no quadro da filosofia "aberto para obras",mas limitadas em termos numéricos. "Com os trabalhos de restauro a decorrerem, as visitas ainda serão muito limitadas. Há, certamente, um interesse grande em visitar o Chalet, e é compreensível e legítimo, e nós queremos mostrá-lo,mas também não queremos comprometer os trabalhos", salienta José Maria Lobo de Carvalho. Mas, quando o restauro estiver concluído, o Chalet vai afirmar-se como um novo pólo de visita do Parque da Pena (ver caixa). "O restauro do interior é muito exigente", reconhece o arquitecto, que já começou a preparar o caderno de encargos para o restauro da Sala das Heras. "E, certamente, haverá um efeito de contágio e à medida que se for fazendo uma, vai-se fazendo outra", acrescenta, sem esconder a sua predilecção pelo Salão Nobre. "Tenho muita vontade de fazer o restauro deste salão, porque a pintura decorativa é magnífica e o incêndio comeu as cores, tinha azuis, encarnados, tons muito bonitos", salienta este responsável, que aponta para a única parede interior que sobreviveu ao incêndio de 1999. "Foi preservada com pinças, ou melhor com uma estrutura brutal de protecção para que não desaparecesse durante as obras". Com esta acção, será possível ainda recolocar nessa parede uma área de 10/15 metros quadrados de pintura decorativa original, que se encontra actualmente no centro de acompanhamento do projecto, situado junto ao portão adjacente à Casa do Guarda. Também a Sala de Jantar promete um amplo trabalho de restauro, já que se apresentava totalmente revestida a painéis de cortiça. O tecto desvenda a estrutura original em madeira, sem reboco, "o que também serve para mostrar às pessoas as fases intermédias de restauro". Quanto ao investimento em falta, para concretizar o restauro do interior, é difícil quantificar. "Uma obra destas é muito complexa e, embora nesta primeira fase tenha corrido muito bem, sem qualquer tipo de derrapagem financeira, já percebemos que a fase de restauro é mais delicada. Por exemplo, na Sala das Heras, o facto de não haver objectos originais, ter que se fazer de fotografia, traz um acréscimo de falta de conhecimento e, por consequência, de custos", conclui o arquitecto José Maria Lobo de Carvalho.

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