quarta-feira, 6 de abril de 2011

‘Amigos sem Fronteiras’

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Alunos e professores da EB2,3 de Albarraque felizes por auxiliarem a Ajuda de Berço Na Escola EB2,3 de Albarraque, há alunos que estão a dar uma lição à sociedade consumista e anestesiada: afinal, os jovens podem entusiasmar-se mais a dar do que a receber, podem discutir e ter ideias que vão para além do futebol e das séries televisivas, e até podem agir em vez de cruzarem os braços, pondo a render, em favor de quem mais precisa, acções plenas de criatividade, empreendedorismo e de sensibilidade social. É o que têm feito os alunos que passam pelo ‘Clube Amigos sem Fronteiras’, criado naquele estabelecimento de ensino há cerca de três anos. Neste período, já auxiliaram associações que apoiam animais em risco (como um canil em Tercena e a Associação de Protecção de Cães Abandonados de Sintra) e, ainda, a Ajuda de Berço. Para o fazerem habituaram-se a planear os passos a dar, analisar os problemas, descobrir soluções. Estas podem ser, por exemplo, a organização de uma caminhada com inscrições a preços simbólicos e venda de ‘t-shirts’ no local, ou o sorteio de um mp3. No caso desta última iniciativa, os alunos desenvolveram mesmo artes de empreendedor: com o dinheiro das rifas – e ainda sobrou – mandaram imprimir um desenho (também executado pelos jovens) em sacos de tecido numa pequena gráfica de Belas; depois, venderam-nos, a pais e amigos, na festa de Natal do ano passado, conseguindo uml ucro assinalável. Resultado: em breve, os ‘Amigos sem Fronteiras’ e os professores que os enquadram vão deslocar-se, uma segunda vez, à Ajuda de Berço, para entregar em cerca de 500 euros em dinheiro e um vasto conjunto de produtos para bebé que, entretanto, os alunos têm andado a recolher!... Ainda não se sabe ao certo quando será feita a entrega, mas já todos sabem como vai terminar o passeio àquela instituição, em Lisboa… “Vai ser uma choradeira pegada”, antecipa Marta Ramos, uma das duas professoras que têm acompanhado desde o início as actividades do Clube. A docente de Ciências recorda como a emoção tomou conta dos miúdos aquando da primeira visita, no ano lectivo 2008/2009. “Eles fizeram lá uma peça de teatro e ficaram muito comovidos com as reacções dos pequeninos, os seus sorrisos e a sua alegria, apesar das histórias de vida tristes…”, recorda Marta Ramos, frisando que esse é um dos principais impactos do projecto. “No início, havia quem estranhasse: ‘Então vamos dar coisas aos outros e não recebemos nada em troca?’. Mas, no fim, quando estiveram com os bebés, tal como, antes disso, quando puderam passear os cãezinhos que também ajudaram, nessas alturas, eles percebem que, afinal, recebem muito em troca”. Algo que consegue cativar mesmo alguns dos miúdos mais rebeldes. “Esses, aliás, acabam por ser dos mais entusiastas”, confirma Marta Ramos, acentuando as potencialidades do projecto: “Surgiram obstáculos, sobretudo no início,mas até isso é bom porque permite aos miúdos perceberem que nem tudo é fácil e que vale a pena não desistir logo perante as dificuldades”. Lançado pela docente de Educação Musical Catarina Crespo – ao pretender ir mais além do que a recolha de produtos para o Banco Alimentar que a escola costuma realizar - o Clube está vocacionado para os 5.º e 6.º anos, mas actualmente conta com a colaboração de alunos do 7.º ano. Além disso, as turmas 5.º A e 5.º B aderiram a esta iniciativa no âmbito da disciplina de Área Projecto, tendo já criado folhetos, cartazes e até um blogue. Por outro lado, também as escolas do 1.º Ciclo do Agrupamento Alfredo da Silva (com sede na EB2,3 de Albarraque) estão a participar na recolha de bens para aAjuda de Berço. “Não tem sido fácil, pois até nesta micro-sociedade que é a nossa escola se nota a crise, mas é gratificante ver que todos se unem por uma mesma causa! E para nós professoras o mais importante é a experiência devida que estas iniciativas proporcionam às crianças”, conclui Marta Ramos. Moral da história: professoras mais realizadas profissionalmente, apesar da sobrecarga horária; alunos mais solidários, apesar do bombardeamento consumista. E muito mais esperança em dias melhores…

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