quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SINTRA Voos civis na BA1 provocam apreensão

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Base de Sintra é uma das hipóteses para receber companhias ‘low cost’ Nas Raposeiras, nos limites das freguesias de Algueirão-Mem Martins e Pero Pinheiro, olha-se com apreensão para o céu. No horizonte surge a eventual escolha da Base Aérea de Sintra (BA1) para localização de um novo aeroporto para receber voos ‘low cost’. A decisão deve ser conhecida em final de Abril, na sequência da constituição de um grupo de trabalho pelo Governo, com os principais candidatos a recaírem nas infra-estruturas militares de Alverca, Montijo e Sintra. A escassos quilómetros da pista da Granja doMarquês, a pacatez marca a paisagem do Bairro das Raposeiras. Com uma reduzida actividade operacional na BA1, os seus moradores quase que se esquecem da proximidade da pista, mas tudo pode mudar. Mas, até que ponto é que vai mudar? Essa é a questão que se coloca e motiva aAssociação de Proprietários do Bairro das Raposeiras (APBR) a lançar um apelo, em forma de comunicado, para que o processo de escolha do novo aeroporto seja muito bem ponderado e informadas as populações. "Sem ouvir as populações, é inadmissível falar em hipóteses deste tipo que, a serem aplicadas, desvalorizariam propriedades e habitações em toda a zona envolvente, perspectivando um inferno sonoro nas muitas localidades das redondezas", alerta a APBR. "Há muita falta de informação para um assunto tão importante", lamenta Hugo Neto, quando se trata de uma questão que vai mexer com a vida das pessoas. "Se calhar, vão ter aviões, de 15 em15minutos, a passar sobre as suas cabeças", adverte o presidente da direcção da APBR. Segundo os órgãos sociais da associação, em causa estão os "problemas de insegurança", "os inqualificáveis níveis de poluição sonora e ambiental", com "drástica diminuição da qualidade de vida das populações", que acabaria por resultar da utilização da base militar de Sintra. Embora temendo pela sua situação, uma área urbana situada a poucos quilómetros da pista, os moradores no Bairro das Raposeiras recordam que "os corredores de acesso para aterragem" englobam "as maiores concentrações urbanas" do concelho – as cidades de Queluz e de Agualva-Cacém e as freguesias de Rio de Mouro e Algueirão-Mem Martins – "direccionando-se (as aeronaves) para a pista a poucas dezenas de metros de altura do Bairro da Cavaleira". Hugo Neto alerta para os riscos que decorrem de sobrevoar aglomerados densamente povoados e recorda que já houve acidentes, com aviões da Força Aérea, que só não atingiram maiores proporções em função da perícia dos pilotos. "Com a construção que existe, um avião, que tenha algum problema quando for a aterrar, vai ter dificuldades em encontrar um sítio para qualquer aterragem de emergência, sem ser em cima das casas". Estas populações vão acabar por ser prejudicadas, "sem a qualidade sonora e o direito ao descanso", denuncia a associação de proprietários, para quem os alegados benefícios económicos, invocados por autarcas sintrenses para defender a escolha da BA1, são questionáveis. "Não consigo ver que benefícios económicos o aeroporto vai trazer para o concelho; só se formais turistas. Mas, um turista que aterre em Lisboa, seja em que local for, certamente vai fazer o IC19 para visitar Sintra", acentua Hugo Neto. Os responsáveis da APBR prometem reforçar as diligências junto de várias autarquias no sentido das populações serem informadas deste processo. "A falta de informação é grande", reforça este dirigente, que apela a que a análise em curso, pelo grupo de trabalho nomeado pelo Governo, tenha em conta "o acréscimo de perigos e prejuízos económicos e ambientais" que podem resultar do novo aeroporto em Sintra. A posição dos moradores do Bairro das Raposeiras surge após a Assembleiade Freguesia de Algueirão-Mem Martins ter aprovado, no final de 2011, uma moção em que recomenda ao executivo que acompanhe este processo "e crie condições para que a população da freguesia seja ouvida antes de serem tomadas decisões definitivas". Apresentada pelo Bloco de Esquerda, a moção, aprovada por unanimidade, adverte que esta nova infra-estrutura, para voos ‘low cost’, pode traduzir-se em "aterragens e levantamentos de aviões pesados de poucos em poucos minutos e todos os dias do ano". Confrontado com o apelo dos moradores do Bairro das Raposeiras, o presidente da Junta de Algueirão-Mem Martins, Manuel do Cabo, acentua que estamos perante um "assunto muito sério" e que tem de ser tratado com "ponderação e não ser bandeira de nenhum partido". "A vinda de um aeroporto para voos ‘low cost’ para a BA1 seria o maior projecto económico-financeiro do concelho de Sintra, com criação de centenas de postos de trabalho e permitiria desenvolver a região em termos turísticos e económicos", considera Manuel do Cabo, dando conta que vários municípios, como Montijo ou Alverca, estão a lutar por receberem esta nova infra-estrutura. "Sintra faz bem em criar um ‘lobby’ forte para que esta mais-valia económico-financeira possa vir para o concelho de Sintra", acrescenta o autarca. Sobre as preocupações invocadas no alerta, Manuel do Cabo considera que tais argumentos "é não ter noção das novas tecnologias em termos de navegação aérea. Não há perigo nenhum. Há centenas de aeroportos nos centros da cidade, em todo o mundo, e não houve problema algum". A localização do novo aeroporto na Granja do Marquês já foi publicamente defendida, em diversas ocasiões, pelo presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara. João Carlos Sebastião

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