quinta-feira, 24 de maio de 2012

CORROIOS Famílias já não escondem a fome


Paróquia é cada vez mais procurada por gente desesperada 

Com a taxa de desemprego estimada para o 1.º trimestre de 2012 nos 14,9 por cento (uma subida de 2,5 pontos percentuais comparativamente com o período homólogo de 2011), a região de Lisboa apresenta um índice de desemprego de 16,5. Estes indicadores têm exigido um maior esforço às entidades de solidariedade no acompanhamento das famílias mais carenciadas. É o caso da Cáritas da Paróquia de Corroios que tem visto aumentar o número de pessoas que pedem ajuda alimentar. “Neste momento damos cerca de 100 refeições diárias através da nossa valência Servir”, refere Sandra Lemos, coordenadora da Cáritas Paroquial de Corroios. E cada vez são mais as que pedem uma refeição confeccionada porque “não têm dinheiro nem para pagar o gás”. Com o desemprego em crescendo, a situação “é alarmante”, comenta esta responsável que recebe pedidos de ajuda de pessoas "que tinham uma vida estruturada mas, de repente, ambos os membros do casal ficaram desempregados, e muitos com um índice de endividamento elevado”. Todos os casos são devidamente avaliados e acompanhados por uma Assistente Social, vem da parceria existente entre o Centro Social e Paroquial de Corroios e a Cáritas Paroquial. No terreno quase há quatro anos, o “Servir”, que começou em parceria com a Associação ‘Ao Encontro de um Sorriso’, foi reestruturado no último ano para conseguir responder ao crescente número de solicitações. Neste momento conta com a solidariedade de 15 estabelecimentos de comida confeccionada, sendo quatro deles em Almada, e o trabalho de vários voluntários que às segundas, quartas e sextas-feiras trazem destes estabelecimentos comida feita para depois dar às pessoas que, a partir das 22 horas acorrem a este apoio junto à Paróquia de Corroios, cujo pároco é o Padre Casimiro Henriques. “A comida que damos é a que sobra do dia, em cada estabelecimento. Não são restos, como alguns dizem, é a mesma comida que é servida aos clientes”, vinca Sandra Lemos. Este alimento confeccionado é transportado em “recipientes próprios” pelos voluntários até à casa onde funciona a Cáritas Paroquial de Corroios. Mas com os estabelecimentos a terem cada vez menos clientes também gerem para terem menos sobras, e com isto o “Servir” teve de procurar outras soluções. “Não recusamos alimentação imediata a ninguém”, garante Sandra Lemos. Isto obriga a que os próprios voluntários confeccionem comida na hora nas instalações ou peçam ajuda a outros voluntários/paroquianos que, nas suas casas, a confeccionam e levam até à instituição. Mas a resposta não consegue ir além da zona habitacional da paróquia, pelo que “quando surgem pessoas, por exemplo do Laranjeiro ou Feijó, são ajudadas na hora, mas depois fazemos o reencaminhamento para instituições da sua área de residência, salvo se houver pedido expresso para este apoio prescrito e comprovado pela paróquia da área de residência”. No entanto a ajuda solidária prestada pela Cáritas Paroquial de Corroios não se esgota nesta valência. Para além do “Servir”, tem ainda o “Alimentar”, que funciona através de protocolos com o Banco Alimentar e do Projecto Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC), o que “já não é suficiente para todas as pessoas que apoiamos”. Neste momento são cerca de 800, mas pelas contas da coordenadora brevemente vão
chegar às mil. “Estamos preocupados, mais ainda quando o PCAAC vai diminuir o número de géneros alimentares que fornecia”. Outra das valências é os “Frescos” que conta também com o apoio de estabelecimentos da zona e do Banco Alimentar e que são distribuídos às quintas-feiras. Mas as preocupações da Cáritas Paroquial de Corroios são cada vez maiores. “Sabemos que vamos receber mais famílias para apoiar, e se neste momento já estamos a fazer um esforço enorme para responder a todos os pedidos, temos de repensar toda a estrutura”. 
Humberto Lameiras

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