quarta-feira, 25 de julho de 2012

Um dia em África sem sair da Amadora


Projecto ‘Sabura’ coloca a Cova da Moura no mapa das atracções turísticas

Há muita coisa boa para ver e sentir na Cova da Moura. Por isso, partimos à descoberta do projecto ‘Sabura’, que dá a conhecer o quotidiano, as actividades económicas e a multiculturalidade do bairro, nem sempre conhecido pelas melhores razões. “Mostrar o lado bom do
bairro” foi o princípio que norteou a criação do projecto ‘Sabura’. Em 2004, quando foi implementado, revolucionou a visão que a população tinha da Cova da Moura. “Com estas visitas, quem vive fora do bairro pode perceber com os seus próprios olhos como aqui se vive e deixar de ter a ideia errada daquilo que passa nos órgãos de comunicação social, que só dão as más notícias”, refere Silvino Furtado, mais conhecido por Bino, o guia "turístico" que nos acompanhou nesta visita. Bino desempenha as funções de guia há seis anos. Leva grupos de turistas pelos mais variados percursos. “Alguns grupos procuram o ‘Sabura’ pela gastronomia do bairro, outros apenas pelo modo de vida, fazemos os percursos de acordo com aquilo que pretendem”, explica acrescentando que “este projecto tem ajudado bastante o bairro, ajudando a combater o estigma”. Na Cova da Moura é possível encontrar mais de 20 restaurantes de comida tradicional africana, sobretudo das várias ilhas de Cabo Verde e São Tomé, mas também da Guiné, Angola ou Moçambique. Existem mais de trinta cabeleireiros especializados em “afro penteados” e muitas mercearias que vendem os ingredientes necessários para um cozinhado bem africano. Por apenas 7,5 euros, os visitantes podem provar pratos típicos de Cabo Verde, como a cachupa, mas também de outros locais de África. Percorrendo as ruas é possível encontrar à venda milho assado ou peixe fresco. Em dias de sol, a Cova da Moura consegue ser um dos locais mais deslumbrantes da Amadora, com uma vista invejável sobre Monsanto, a par das cores e cheiros que povoam as suas ruas. Uma cidade sem praia, mas rica em diversidade cultural. Bino fala das coisas boas que trouxe o projecto ‘Sabura’, criado pela associação Cultural Moinho da Juventude, mas também de todo o trabalho que tem sido desenvolvido ao longo de anos pela instituição. “A associação tem desenvolvido um trabalho muito importante com os jovens, criando ocupação e emprego. Muitas vezes a história do Moinho confunde-se coma do bairro”, afirma o jovem, lembrando que “o projecto está consolidado”. Opinião semelhante tem José Carlos Tavares, proprietário de um cabeleireiro africano. “O bairro está melhor, as pessoas olham para ele de outra forma, desde a criação deste projecto”. Este empresário integra o ‘Sabura’ desde o início e recorda que “o bairro era muito mal afamado, mas depois da criação deste projecto muita coisa mudou. Muitas pessoas vêm de fora sem receios e procuram os produtos e serviços que nós disponibilizamos”. A expressão crioula “Sabura” significa em português “tudo bom”. Por isso, foi este o nome escolhido pelos coordenadores do projecto, que nasceu no seio da Associação Cultural Moinho da Juventude, mas que se trata de uma réplica de visitas turísticas guiadas feitas às favelas no Rio de Janeiro. As visitas custam 5 euros, sendo que para grupos é apenas 2,5 euros por pessoa. O almoço típico acresce apenas 7,5 euros.  
Milene Matos Silva

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