quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Avante" com a música portuguesa


Austeridade vai estar patente nos discursos, mas não afecta programação da Festa do Avante

A uma semana do início da 36.ª edição da Festa do “Avante”, são muitos os militantes comunistas que resistem ao calor e participam na montagem das estruturas do mais relevante acontecimento cultural e político do ano. Pelas contas da organização, cinco mil militantes dão o seu contributo para a festa que vai decorrer entre 7 e 9 de Setembro. Pelos vários palcos da Quinta da Atalaia, no Seixal, vão passar 150 espectáculos, na sua grande maioria com artistas portugueses. Uma decisão que não estará relacionada com restrições financeiras mas com a “valorização da música que se faz em Portugal”, afirma Ruben de Carvalho, membro do comité central do PCP e da direcção da Festa do “Avante”. Inclusivamente, “desde 1989, todos os técnicos que asseguram os espectáculos são portugueses”. Mas custos são custos e mesmo na sua festa magna os comunistas quiseram “precaver-se”, revela Alexandre Araújo, do secretariado do comité central, porque o país “está a viver um momento de austeridade”. Contudo garante que “não haverá quebra no padrão de qualidade” dos espectáculos. Aliás, a austeridade e as decisões do Governo sobre a condução política de Portugal prometem ser um dos temas fortes numa festa que apesar de abranger todas as expressões culturais, vai colocar em cima da mesa as questões nacionais. “A Festa do ‘Avante’ nunca esteve desligada da situação política que se vive em cada altura que se realiza. E este ano vai lembrar o pacto de agressão em que o país se encontra”, vincou Alexandre Araújo ao Jornal da Região “Assistimos à tentativa de destruição do Serviço Nacional de Saúde, da escola pública, alteração da legislação laboral e ataque ao poder central democrático com a extinção de freguesias”, acrescenta. São temas a focar nos mais de 30 debates previstos durante a festa, e que serão contributos para os documentos a serem apresentados no XIX Congresso do PCP que decorrerá nos dias 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro no Complexo Municipal dos Desportos – Cidade de Almada. Quanto a destaques da Festa do “Avante” 2012, para além de uma exposição fotográfica em homenagem aos trabalhadores e valorização do seu trabalho na criação de riqueza nacional, vão ser evocados os 70 anos da morte de Bento Gonçalves (secretário-geral do PCP entre 1929 e 1942) no campo de Concentração do Tarrafal, os 75 anos da obra-prima de Picasso, “Guernica” e ainda as lutas de 1962 como um marco contra o fascismo e o nascimento da Rádio Portugal Livre. Vozes cruzadas em palco Quanto aos espectáculos, o palco principal vai abrir com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, num concerto que inclui 16 peças sinfónicas em que todos os solistas são jovens portugueses. O fecho da festa vai ser também emportuguês, com o fado nas vozes de Ana Moura e Hélder Moutinho, em dois espectáculos através dos quais a direcção da festa pretende assinalar a classificação do fado como património imaterial da humanidade. Mais uma vez alguns dos mais conhecidos intérpretes da música portuguesa vão cruzar vozes em parcerias trabalhadas para a Festa do “Avante”, é o caso de Sara Tavares que vai actuar ao lado de Pacman, Rão Kyao e Nancy Vieira e também de Jorge Palma que vai estar em palco com Tim (Xutos & Pontapés), Cristina Branco e Tiago Bettencourt. Também a vocalista dos Deolinda, Ana Bacalhau, vai formar parceria com os Gaiteiros de Lisboa, num concerto que junta ainda Zeca Medeiros e Adiafa. “Os artistas portugueses reconhecem que na Festa do ‘Avante’ têm condições técnicas e de acolhimento que não encontram noutro local em Portugal”, afirma Ruben deCarvalho para explicar o surgimento destas parcerias que apenas se podem ouvir na Quinta da Atalaia. 
 Humberto Lameiras

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